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ALEKSANDRA SERBIM
Psicóloga, escritora de origem judia.
Estudou Doutoranda em Psicologia Social - Portugal na instituição de ensino UAlg IRO
Trabalha na empresa Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Presidente da Comissão de Tolerância Religiosa da ABCCRIM.
SOM DE POETAS – Colectânea de Poesia. Lisboa?: Papel D´Arroz Editora, Múltiplas Histórias Unipessoal Ltda., 2015.
418 p. ISBN 978-989-8796-37-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
MINHA FLORESTA RELUZENTE
Nos arredores da minha infância
Mora uma floresta reluzente,
É majestosa como o rio,
Que tem secas as suas margens,
Mas rega o arbusto resistente.
Ah! Que me dera lá estar,
Para alçar um voo rasteiro,
E saborear o nevoeiro.
Leves nuvens de algodão,
Não quero pisar o chão,
Quero ser como Adão,
Formosura da criação!
Nesse labirinto escondido,
Sou ser da situação!
Um ser mágico, entorpecido,
Ciente de minha excitação.
Sabedor de todas as coisas,
Coisas de minha imaginação.
Sou um rio de estreito leito,
Abraço-me completamente.
Enamoro-me em águas claras,
Abro-me contra a corrente.
E como uma fada, pura,
Sacio a minha secura,
Aqui, e eternamente.
Mas depois do refrigério,
Do corpo a relaxar,
Ressoa a consciência,
É hora de debandar.
Percorro todo o trajeto,
No avesso por retomar.
Do outro lado me espera
O outro eu acenar.
Despeço-me da minha floresta,
Faço-o sem desalento.
Pois sei que intocada aguarda,
Pelo meu chamamento.
Oh! Floresta iluminada,
És em ti um monumento!
Dos tempos da meninice,
Do meu etéreo momento.
ONOMATOPÉIA DOS SENTIDOS DISTORCIDOS
Trim Trim Trim – berra o alarme intrometido.
Ergo os meus olhos; estou meio descaído.
Não me deixou concluir o sonho.
Que despertar enfadonho!
Espreguiço-me pela enorme cama e me ponho a rolar.
Track, track — faz o som dos meus ossos, já a estalar.
É um lembrete deste corpo, que viu os anos a passar...
Enrijecido corpo, não me deixa levantar.
Ahhhhhhh!
O meu bocejo dá-me bom dia! É mesmo dia?
Levanto e ando em minha total melancolia.
As minhas sandálias calço ao reverso.
De tão pesadas, quase tropeço.
Slap slap — O som delas é nefasto!
E nesse lento andar eu me arrasto.
É na casa de banho que sou uma estratosfera.
E nesta banheira de quimera, a minha memória se reverbera.
Eu lavo minha coragem e a guardo até a primavera.
Chuááá chuááá!
Enquanto ouço o som das águas a esvair-se de mim,
Relembro a minha infância,
E refaço o meu caminho, tim-tim por tim-tim.
Mas preciso do café. Preto, forte, quente.
Fiiiiiiiiiuu — faz o assovio da chaleira, que descongela
a minha mente.
Café, meu grande amigo, só você me deixa contente!
Teu cheiro me inebria. Como é bom estar dormente!
Zap Zap — Nova mensagem — avisa o telemóvel
onipresente.
Não é nada que eu não saiba, ou é só mais uma corrente.
Sem resposta vais ficar! Vê se aprendes a ser gente!
Ligo o meu computador, em busca de deletar
Tudo aquilo que me enche; que me faz abarrotar.
São e-mails de uma rede que não quero mais pescar.
Jogo-os todos na lixeira, com um prazer de amedrontar.
Tlim Tlim – avisa o programa. Pode desconectara!
Blom BLom Blom — dobram os sinos na igreja.
O Padre chama os fiéis. É hora da peleja!
Contra os maus costumes lutam, quando o diabo rasteja.
Dessa luta sou vencido. O Pecado em mim festeja.
Tac Tac – Bate janela de minha sala desabitada.
Abriu-se com a força do vento, já não estava acostumada,
A deixar todo o recinto com um “quê” de ensolarada.
Volta já para teu canto. És uma mortalha blindada!
Ouço algo mui estranho, algo pouco familiar.
Ha ha ha – São risos de crianças, é difícil acreditar
Que aqui da minha masmorra, donde estou a me afugentar,
Venham seres tão incríveis, duma pureza rudimentar,
Confrontar minha tristeza com a leveza do altar.
Xôôôô – grito bem alto — Parem já com essa euforia!
Vão brincar por outras bandas — Deixem-me se a epifania.
Não quero ser despertado dessa minha longa agonia.
Se acaso vocês se demoram, abala-me e contagia...
Deixem-me com meus sons, sou a minha fantasia.
Vou dormir, pois me perdi dos sonhos da mãe Maria.
*
Página publicada em novembro de 2021
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